O tempo de cada um
Vou começar dizendo que existem dois tempos: o do relógio (Cronos) e o de cada um (Kairós). O do relógio é matemático e objetivo, cada dia tem 24 horas e o ano 12 meses em um calendário que é utilizado no mundo todo.
Já o tempo de cada um é subjetivo. Há uma expressão que bem representa isso: “demorou para cair minha ficha”. Ela se refere ao uso do telefone público, no qual era inserida uma ou várias fichas colocadas para realizar uma chamada.
As pessoas da minha geração entendem bem essa expressão, já as mais novas sequer alcançam a comparação, pois não conviveram com esses equipamentos totalmente obsoletos nos dias de hoje. “Cair a ficha” representava o momento em que fazíamos a conexão, aquele em que dizíamos: “Ah, agora entendi!”.
Com a tecnologia e a rapidez das informações, parece que perdemos a noção de que existe o tempo de “cair a ficha”. Cobramos eficiência e rapidez, tudo agora e já, no tempo do relógio, nos esquecendo do tempo para nos organizarmos internamente.
Essa é a grande questão do tempo de cada um, pois digerimos diferentemente tudo aquilo que recebemos. Refletimos com base nas nossas percepções e elas são muito individuais. Cada um traz lentes próprias com que olha a vida e enxerga o mundo por um ângulo específico, ou seja, nossa janela particular pela qual vemos o mundo. E reagimos de acordo com nosso tempo interno: uns digerem rápido, outros não, cada um em seu próprio tempo.
Aí a confusão está armada. Quantas vezes queremos regular as relações pelo tempo do relógio, desconsiderando o tempo de cada um?
Sequer nos damos conta, no nosso dia a dia, que essa diferença existe e está presente em todas as relações.
Desenvolver um olhar cuidadoso sobre o tema, dilatando nossas percepções sobre o modo de ser e de viver de cada um pode evitar muitos problemas.
Afinal, como nos inspiram Dani Black e Milton Nascimento na música Eu Maior:
‘Eu sou filho do mistério e do silêncio, somente o tempo vai me revelar quem sou”.
Qual tempo? O tempo de cada um!