Artigo

Lugar de mulher

Na semana em que se comemora o Dia Internacional das Mulheres, somos estimulados a refletir sobre a expressão “lugar de mulher é onde ela quiser”.

Tenho conhecido mulheres altamente capacitadas para os ambientes executivos mais desafiadores, a exemplo dos Conselhos e cargos de liderança. No entanto, segundo pesquisa do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa datada de 2023, há apenas 15,2% de mulheres dentre os 6.160 profissionais que compuseram a amostra objeto da pesquisa.

É claro que há a questão da indicação para esses espaços de liderança, mas percebo algo maior que está intrinsicamente ligado ao culto da modéstia tão presente na nossa cultura cristã. Saber expressar suas principais competências e se apoderar de sua marca pessoal não é coisa simples, especialmente para as mulheres.

Para grande parte de nós ainda falta um curso a ser realizado ou uma qualificação a ser atingida, enquanto parte significativa dos homens que concorrem aos mesmos espaços de liderança se sente preparada para essas posições. Eles também foram treinados culturalmente a fazer network e manter seus relacionamentos profissionais, criando assim uma rede extensa de apoio e indicação mútua.

Atualmente, há várias mulheres que se unem em associações e projetos específicos, fomentando os relacionamentos e auxiliando umas às outras a alcançar essas posições de liderança. A questão do relacionamento profissional, portanto, vai aos poucos fazendo parte da nossa cultura, iluminando a expressão “lugar de mulher é onde ela quiser”.

No entanto, há o fator interno. Ocupar o lugar no mundo requer duas habilidades importantes: conquistar e sustentar. Na hora “H” muitas não se sentem preparadas ou praticam a automática e inconsciente autossabotagem, seja na abordagem da conquista ou na prática da sustentação.

Um pouco disso é porque ainda faltam algumas referências próximas, alguém como mãe, tia, avó ou chefe que exerceu uma posição de liderança e, por isso, inspira e enraíza por dentro, tornando possível a realidade sonhada.

Outro tanto, podemos atribuir à “síndrome da mulher maravilha”, na qual precisamos dar conta de tudo: beleza, casa, família, educação dos filhos, relacionamentos, saúde e vida profissional. Aqui, ao contrário da matemática, a ordem dos fatores altera o resultado final. O que priorizamos vai definir o lugar que conquistamos e sustentamos no mundo.

Penso que é esse olhar cuidadoso e generoso conosco que precisamos cultivar. Juntar o que sentimos com o que somos, enxergando nossos processos de autossabotagem e as sementes de potência adormecidas em nós mesmas.

Lugar de mulher é o de fazer acontecer, questionar autoexigências, alinhar expectativas internas e externas, ocupar espaços de decisão, sentar-se à mesa de reunião, colaborar com o processo de governança, somar, conquistar seu lugar e o sustentar. Que todos esses verbos possam fazer parte da nossa jornada interna reverberando para as conquistas exteriores.

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