Dia do Fake e Customização das Mentiras Sistêmicas
O 1º de abril é o Dia da Mentira e, muito além de um simples dia de brincadeiras, sabemos que este assunto envolve diferentes perspectivas filosóficas, éticas e psicológicas. Algumas pessoas acreditam que existem situações em que a mentira é necessária para evitar conflitos, preservar a privacidade ou proteger a alguém que amamos.
Tão perigoso como falar uma mentira, porém, é falar uma verdade no momento errado, gerando conflitos, inimigos e enfrentamentos. O que faria se fosse presidente de um país e tivesse que mentir para não começar uma guerra que poderia matar grande parte do seu povo?
O professor de ciências políticas da Universidade de Chicago John J. Mearsheimer analisou como a mentira pode ser uma ferramenta usada pelos governos, e disse que os líderes mentem muito mais para sua própria população do que para outros líderes internacionais. Afirmou que líderes em todas as organizações, sejam estas políticas, sociais, econômicas, religiosas e laicas, alguma vez mentiram para manter seus trabalhos, suas instituições e suas vidas.
Em uma entrevista elaborada em 2016 com mais de 3 mil pessoas realizada durante um estudo da Universidade de Chicago, se perguntou com que frequência elas mentiam no trabalho. O resultado mostrou que as profissões que mais mentiam eram as relacionadas a vendas, marketing, publicidade e relações públicas.
Outra pesquisa realizada pela empresa CareerBuilder em 2018 entrevistou mais de mil gerentes de recursos humanos nos Estados Unidos e perguntou quais eram as profissões que mais apresentaram candidatos mentirosos nos currículos. Os resultados mostraram que as profissões que mais mentiam eram as relacionadas com a tecnologia de informação, serviços financeiros, saúde e varejo.
Frases como: “Fake it ‘til you make it” fazem parte do jargão de pessoas sonhadoras que vendem o que ainda não tem, tentando alcançar seus mais prezados objetivos, seria isto uma forma de mentira?
No livro “Mentir com Estatísticas”, Darrell Huff reúne uma lista de mentiras contadas pela mídia, por políticos e por publicitários com apoio matemático. No campo da estatística existe o falso positivo e os falsos negativos para indicar verdades que poderiam não ser realmente verdadeiras.
Nas redes sociais, as pessoas muitas vezes podem se apresentar mais ricas, mais bonitas e mais felizes do que são na realidade, e quem assiste prefere ver isso do que saber as debilidades e pontos fracos que talvez não trairiam grandes audiências.
Então, mentir se tornou sistêmico?…Millôr Fernandes disse: “Jamais diga uma mentira que não posso provar”. Entretanto Picasso dizia: “A arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade”. Sobre isto, Oscar Wilde disse: “A finalidade do mentiroso é simplesmente fascinar, deliciar, proporcionar regocijo. Ele é o fundamento da sociedade civilizada”. Machado de Assis escreveu: “A mentira é muitas vezes tão involuntária como a respiração”.
Vários vox populis falam da mentira: “O dinheiro cala a verdade e compra a mentira”, “É bom mentir, mas não tanto”. Falar a verdade e ofender ou mentir e agradar, é aqui o dilema da nossa sociedade atual.
Meias verdades, meias mentiras, mentiras brancas, mentiras customizadas, são apresentadas diariamente e devemos aprender a reconhecê-las, principalmente identificá-las das pessoas que têm transtorno psicológico de difícil controle como a mitomania.
Olavo de Carvalho disse: Desenvolva o senso da Verossimilhança para que, após muito treinamento mental, aprenda a diferenciar entre o que é verdadeiro e o que é falso.
O escritor e Rabino Zelig Pliskin,em seu livro “Love your Neighbor” fez um resumo sobre quando poderíamos mentir, entre elas para fazer as pazes entre duas pessoas que estão tendo discussão, por humildade para não chamar a atenção sobre nós, para enganar alguém que está tentando nos enganar e protegermos de algum golpe, elogiando algo que uma pessoa comprou apesar que não merece nosso elogio, mentir para salvar a vida de alguém, entre outras.
Então, devemos sempre refletir sobre as razões pelas quais mentimos e sobre as implicações das nossas mentiras. Devemos ter em mente que a verdade é um valor fundamental e respaldado pelas leis do direito republicano da sociedade atual, devemos encarar a mentira e a verdade com boa-fé.