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Queda Capilar em Pacientes em Uso de Medicamentos Emagrecedores: Fatores Nutricionais e Metabólicos em Foco

Efeito tem preocupado usuários de medicamentos como os das “canetas emagrecedoras

Cada vez mais populares no tratamento da obesidade e do diabetes, os agonistas de GLP-1 — como Ozempic e Wegovy — têm sido associados a um efeito colateral inesperado: a queda de cabelo. Apesar de menos comum do que náuseas, vômitos ou constipação, o problema vem sendo amplamente relatado por usuários nas redes sociais e em consultórios médicos.

A explicação, segundo especialistas, está na forma como o corpo reage às mudanças intensas causadas pelo medicamento. “A queda de cabelo observada em alguns pacientes que fazem uso de agonistas do receptor de GLP-1, como a semaglutida, não ocorre devido a uma ação direta da medicação sobre os folículos pilosos. Na maioria dos casos, trata-se de uma consequência indireta da perda de peso acelerada, que pode induzir um estresse sistêmico suficiente para alterar, de forma temporária, o ciclo capilar.”, afirma o nutrólogo e intensivista Dr. José Israel Sanchez Robles.

A condição, conhecida como eflúvio telógeno, acontece quando uma quantidade maior de fios entra na fase de queda devido a estressores físicos ou metabólicos, como dietas restritivas, cirurgias, doenças ou grandes alterações corporais. No caso dos agonistas de GLP-1, a redução rápida do peso, somada à diminuição do apetite, pode levar também a deficiências nutricionais.

“Observa-se, em alguns casos, que pacientes em uso de agonistas do receptor de GLP-1 apresentam dificuldade em manter uma ingestão adequada de proteínas e micronutrientes. Quando esse déficit nutricional ocorre, o organismo tende a priorizar funções fisiológicas vitais, redirecionando recursos metabólicos e deixando estruturas como os anexos cutâneos — incluindo os folículos capilares — em segundo plano.”, explica o médico. Entre os nutrientes que mais influenciam o crescimento capilar estão ferro, zinco, vitaminas do complexo B e vitamina D.

Outra preocupação é que pessoas predispostas geneticamente à alopecia androgenética — a calvície padrão — podem notar um agravamento do quadro durante o uso desses medicamentos. Ainda não há consenso científico, mas relatos clínicos têm aumentado.

Apesar do susto, o eflúvio telógeno costuma ser reversível, desde que a causa seja identificada e tratada. “A recomendação é que o paciente comunique ao médico qualquer episódio de queda capilar durante o uso da medicação, a fim de que seja realizada uma avaliação clínica completa, incluindo exames laboratoriais. Apenas com um diagnóstico preciso é possível estabelecer a conduta terapêutica mais apropriada para cada caso.”, afirma o nutrólogo.

Entre as abordagens possíveis estão ajustes na dose do medicamento, correções nutricionais e uso de substâncias estimuladoras do crescimento capilar, como minoxidil oral ou tópico. “A abordagem terapêutica deve ser direcionada à causa subjacente. Em grande parte dos casos, a correção de desequilíbrios nutricionais e o controle da velocidade da perda ponderal são suficientes para que o ciclo capilar se normalize e o crescimento dos fios seja restabelecido.”, diz José Israel.

O médico alerta, porém, que a automedicação e o uso indiscriminado de agonistas de GLP-1 ampliam o risco de efeitos indesejados. “Trata-se de fármacos com mecanismos de ação bem estabelecidos, mas que também apresentam potenciais efeitos adversos relevantes. Seu uso deve ser restrito a indicações clínicas apropriadas, sempre com acompanhamento médico, e não como alternativa de conveniência para fins exclusivamente estéticos.”, conclui o especialista.

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