Avanço da ciência traz nova combinação farmacológica que reduz gordura e preserva músculos; entenda
Estudo internacional mostra que a combinação de bimagrumabe e semaglutida induz perda de peso superior a 20% com preservação da massa magra
Uma nova combinação de medicamentos está abrindo caminho para o que especialistas já chamam de a próxima geração do tratamento contra a obesidade. Dados apresentados recentemente no congresso da American Diabetes Association, em Chicago, revelam que a associação entre bimagrumabe e semaglutida não apenas promove emagrecimento superior a 22%, como também preserva a massa muscular – um dos grandes desafios da medicina metabólica até então.
O médico nutrólogo e intensivista José Israel Sanchez Robles explica: “O aspecto mais relevante observado no estudo é a demonstração, pela primeira vez, de uma redução significativa de gordura corporal — particularmente do tecido adiposo visceral — sem a perda concomitante de massa muscular, frequentemente associada aos métodos convencionais de emagrecimento. A preservação da massa magra é um fator determinante para a manutenção do gasto energético basal e para a prevenção do efeito rebote.”
A pesquisa envolveu mais de 500 pessoas com obesidade e testou diferentes esquemas de aplicação dos medicamentos. Os melhores resultados foram obtidos com bimagrumabe 30 mg/kg, administrado por infusão intravenosa, aliado à semaglutida 2,4 mg (comercializada como Wegovy). Os dados mostram uma redução de 58,2% da gordura visceral e 45,7% da gordura total, com preservação de mais de 90% da massa magra.
“O bimagrumabe é um anticorpo monoclonal que atua por meio do bloqueio da via da activina, um eixo regulador envolvido na inibição da hipertrofia muscular e na promoção do acúmulo de tecido adiposo. Ao antagonizar essa via, o bimagrumabe favorece o ganho de massa magra e a redução de gordura corporal. Quando combinado à semaglutida — um agonista do receptor de GLP‑1 com potente efeito anorexígeno —, a associação demonstra eficácia metabólica sinérgica, atuando simultaneamente na modulação do apetite e na composição corporal”, destaca José Israel.
No Brasil, substâncias como a semaglutida (Ozempic e Wegovy) e a tirzepatida (Mounjaro) já vêm sendo usadas por médicos no controle de peso. Em 2024, a Anvisa aprovou o uso do Wegovy para tratamento da obesidade e, neste ano, o Mounjaro, impulsionando o acesso a terapias modernas.
“O uso criterioso dessas novas intervenções terapêuticas, quando associado à adoção de hábitos de vida saudáveis, têm o potencial de modificar significativamente o prognóstico de milhares de pacientes com obesidade, especialmente aqueles que historicamente enfrentavam resultados limitados, temporários e frequentemente frustrantes com abordagens tradicionais”, alerta o médico. Novas combinações, como bimagrumabe com tirzepatida, já estão em testes avançados. Segundo especialistas, essas terapias representam uma mudança de paradigma no tratamento da obesidade, com foco não apenas na perda de peso, mas na qualidade da composição corporal e saúde metabólica duradoura.
“Estamos diante de uma nova era no tratamento da obesidade, em que o objetivo não é mais a perda ponderal indiscriminada, mas sim a redução seletiva de gordura — com ênfase na preservação da massa muscular — e, sobretudo, na promoção integral da saúde metabólica e funcional do paciente”, conclui José Israel.