Artigo

Inspirar para educar

Há um movimento crescente sobre a arte de ensinar por meio da contação de histórias. Inventaram até um nome estiloso para isso: storytelling.  No entanto, a atividade não é nada inovadora porque a tradição da oralidade é muito anterior à escrita.

 

Com outro nome, Jesus também utilizou a técnica através das parábolas, que nada mais eram do que histórias contadas de acordo com os costumes da sociedade agrícola da época. Os discípulos transcreveram nos evangelhos várias dessas histórias.

 

Uma delas é bem interessante. Ela é A parábola do filho pródigo, mas sua maior mensagem é de um amor paternal profundo, tanto que sequer é reconhecido pela maioria das pessoas. Explico.

 

Ouço muitos pais reclamando que filhos não vêm com manual de instrução e que não há cartilha para ensinar a educar. No entanto, essa parábola escrita há mais de dois mil anos conserva uma história inspiradora que merece ser observada.

 

O pai, diante de um simples pedido do filho, antecipa sua parte na herança e não se opõe a que ele parta e faça o que bem entender com os bens doados. Suporta a partida, a falta de informações e a ausência do filho. Não há notícias de que ele tenha se desesperado, adoecido ou se revoltado com isso.

  

Anos depois, avista o filho de longe, na estrada, a caminho de casa – e corre ao seu encontro. Consegue reconhecê-lo, embora seu estado seja de penúria, pois está magro, sujo e humilhado. Esse pai bíblico abraça o filho e o conduz de volta ao lar, anunciando a todos que finalmente seu caçula está de volta. Determina então que seja realizada uma festa para comemorar o momento.

  

Não tripudia sobre a derrota do filho, não diz “Eu avisei!”, não pede contas dos bens dissipados, nem se espanta com a derrocada física e moral do caçula.

 

Diante da reação ciumenta do filho mais velho, não permite que ele humilhe o irmão, reafirmando o amor a ambos, cada um a seu modo.

 

Por que prestamos tão pouca atenção nas atitudes desse pai? Por que se observa tanto o comportamento do filho caçula e se fala tão pouco do filho primogênito e ciumento? 

 

Com nosso olhar viciado de julgamento entre certo e errado, fica fácil analisar o comportamento do filho pródigo, que arruína os bens e volta humilhado para casa.  

 

No entanto, não é nada fácil reconhecer o amor profundo desse pai. Mais difícil ainda é nos inspirarmos nele, cultivando em nós essas virtudes tão bem exercitadas. O amor dele é tão profundo que não encontra ressonância na Terra. Embora seu exemplo seja claro, é raro encontrarmos um homem ou mulher que, como pais, tenham agido como ele, suportando o pedido, a partida e o retorno em penúria. Seu amor é o exemplo do amor divino, que respeita nossas escolhas e livre arbítrio, não tripudiando sobre nossos erros.  

 

Inspiração para a educação escrita há mais de dois mil anos para quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir! 

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