Artigo

A arte do desembaraço

Poetas, cantores, escritores e psicanalistas são habilidosos em usufruir das palavras para desatar nós. Sim, pois entre o que desejamos e o que vivemos há um caminho sinuoso, cheio de linhas. A cabeça quer uma coisa, o coração pede outra. Aí, nesse caminho de vai e vem, as linhas se traçam e dão um nó.


O pior é quando resultam em um nó cego. Esse é o mais desafiador. Ele não pode ser visto de fora. É como a confiança, a chave só abre por dentro.


Diante de um nó cego, modulamos a intervenção. Tenta um pouquinho aqui, outro tantinho ali… Como aquela corrente de ouro que, dependendo de como é guardada, dá um nó. Sem paciência ao desatar, pode-se arrebentar a corrente. É devagar, com jeitinho e persistência que o embaraço se desfaz.

 

A maioria desiste no meio do caminho e deixa o nó lá onde ele se fez. Dá trabalho desfazer! Gasta energia, pede foco, força de vontade e tudo para quê? Para dar conta de saber mais de si mesmo, coisa para poucos.


Então, o desata-nós é aquele que auxilia as pessoas a reconhecerem as linhas, se há algum embaraço, se existe algum nó – e a agir com paciência e persistência para, localizando o empecilho, se organizar.

 

A arte de lidar com as palavras ajuda nesse processo. Pode ser cantando, conversando ou poetando, pois ver as linhas e os sentimentos auxilia no desembaraço.


Quando o caminho é fluido e as linhas transitam sem obstáculos, a vida proporciona encontros.


Melhor ainda é quando encontramos outras linhas e nos formamos nós. Como é bom reconhecer a linha de cada um e fazer um belo bordado de vida, colorido, harmonioso, resistente, uma verdadeira teia de relacionamentos.


Aí não há mais um nó, mas nós. As linhas originadas de muitos lugares formam uma teia irresistível, impactante e surpreendente que garante a harmonia até mesmo de quem ainda não chegou”. Uma família formada assim usufrui de mais encontros prazerosos.


Desembaraçar e formar teias é uma arte a ser cultivada.

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