Uso indiscriminado de canetas emagrecedoras e falhas em dispositivos acendem alerta
Especialistas apontam riscos graves do uso sem prescrição e de erros tecnológicos que podem levar a lesões e mortes
O avanço de medicamentos e tecnologias voltadas ao tratamento da obesidade e do diabetes tem transformado a medicina moderna, mas também levantado preocupações sérias quando esses recursos são utilizados sem critério médico ou apresentam falhas. O uso indiscriminado das chamadas canetas emagrecedoras, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, aliado a problemas recentes em monitores de glicose, evidencia um cenário de riscos à saúde que vai muito além da estética.
Nos últimos anos, cresceu o número de pessoas que recorrem às canetas emagrecedoras sem indicação clínica e sem acompanhamento profissional, motivadas por resultados rápidos na perda de peso. Embora esses medicamentos tenham aprovação para o tratamento de obesidade e diabetes tipo 2, especialistas alertam que o uso fora dos critérios pode provocar efeitos adversos importantes, como distúrbios gastrointestinais, perda excessiva de massa muscular, alterações metabólicas e até episódios graves de hipoglicemia.
“O principal problema reside na banalização de fármacos originalmente desenvolvidos para o tratamento de doenças crônicas, como diabetes tipo 2 e obesidade. Esses medicamentos não devem ser confundidos com agentes cosméticos, tampouco são isentos de efeitos adversos potencialmente graves.”, afirma o médico nutrólogo e intensivista Dr. José Israel Sanchez Robles. Segundo ele, a automedicação, assim como o uso intermitente desses fármacos sem acompanhamento médico adequado, eleva significativamente o risco de complicações clínicas, incluindo efeitos adversos sistêmicos e descompensações metabólicas. “A ausência de uma avaliação clínica individualizada compromete a identificação de fatores como histórico patológico pregresso, composição corporal, e riscos cardiometabólicos. Essa lacuna aumenta a probabilidade de efeitos adversos relevantes e descompensações clínicas, especialmente em pacientes com comorbidades. Embora raros, desfechos graves podem ocorrer, principalmente quando há uso inadequado de medicações em indivíduos com risco elevado”, alerta.
O debate se torna ainda mais sensível diante de recentes alertas internacionais sobre falhas em dispositivos médicos. A Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, associou leituras incorretas de determinados monitores de glicose da Abbott a pelo menos sete mortes e mais de 700 lesões graves em todo o mundo. Leituras erradas podem levar pacientes a tomar decisões inadequadas, como suspender insulina ou ingerir carboidratos em excesso, colocando a vida em risco.
Para o médico José Israel, a situação evidencia uma fragilidade em dois eixos: o uso inadequado de medicamentos e a crescente dependência de tecnologias que demandam monitoramento contínuo. “Existe uma confiança significativa do paciente tanto nos medicamentos quanto nos dispositivos médicos utilizados no manejo de condições crônicas. Falhas — sejam operacionais, humanas ou tecnológicas — podem resultar em consequências clínicas importantes, como episódios de hipoglicemia ou hiperglicemia em pacientes diabéticos, com potencial para descompensações agudas caso não haja intervenção imediata.”, ressalta.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reforçou as regras para a venda de canetas emagrecedoras, tornando obrigatória a retenção da receita médica. Ainda assim, o mercado ilegal e a automedicação continuam sendo desafios. “Não há soluções milagrosas para o manejo do excesso de peso. O tratamento deve ser contínuo, sustentado por evidências científicas, e pautado na segurança e na individualização da conduta terapêutica.”, conclui o médico.
O alerta dos especialistas é inequívoco: tanto os medicamentos quanto os dispositivos médicos possuem papel fundamental na preservação da vida quando utilizados de forma correta. No entanto, seu uso sem orientação médica e sem controle adequado pode representar riscos significativos à saúde, inclusive com potencial de causar danos graves.O cuidado médico responsável deve sempre prevalecer sobre soluções rápidas ou práticas não supervisionadas.
