Médico alerta sobre o aumento da obesidade infantil na população: “nova epidemia”
Especialista diz que consequências de uma vida com sobrepeso são graves
Apesar de ser um tema frequentemente discutido, os números são alarmantes: nos últimos 40 anos, o número de crianças obesas quadruplicou. Quem mostra é o atlas da World Obesity Federation, que afirmou que em 1980, menos que 5% das crianças e dos adolescentes estavam acima do peso e, em 2020, saltou para 22%. Acontece que as consequências desses números não são graves apenas para o indivíduo que cresce obeso, mas para toda a sociedade que viverá uma crise de saúde. Por isso, o médico intensivista e nutrólogo José Israel Sanchez Robles faz alerta sobre o assunto.
“O cenário da obesidade infantil no mundo é preocupante e pode ser considerado uma nova epidemia, com projeções cada vez mais desfavoráveis. Estima-se que, até 2025, cerca de 39% dos jovens estarão acima do peso, representando uma mudança significativa que traz implicações diretas para a saúde pública global. No Brasil, a situação segue a mesma tendência: de acordo com dados do Ministério da Saúde, 15,9% das crianças menores de 5 anos apresentam sobrepeso e 7,4% já são classificadas como obesas, indicando a necessidade de intervenções precoces para prevenir complicações futuras”, diz José Israel.
Ainda de acordo com o médico, esses números refletem uma tendência preocupante por conta das doenças associadas à obesidade. “Diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares já acometem milhões de pessoas em todo o mundo. Com o aumento da prevalência de obesidade infantil, espera-se que um número ainda maior de indivíduos seja diagnosticado precocemente com essas condições, contribuindo para uma crise na saúde global devido ao aumento da demanda por tratamento e gerenciamento dessas doenças crônicas em idades cada vez mais jovens”, completa.
Além das consequências físicas, é importante destacar que a obesidade infantil também tem repercussões emocionais significativas. Crianças com excesso de peso são mais propensas a desenvolver baixa autoestima, sintomas de ansiedade e depressão, e podem ser alvo de bullying, afetando seu bem-estar e desenvolvimento psicossocial. “Dessa forma, o ambiente familiar exerce um papel fundamental na prevenção desses problemas. É essencial implementar desde a infância hábitos alimentares saudáveis, promover a prática regular de atividade física e reduzir ou eliminar o consumo de alimentos ultraprocessados, que são importantes fatores no agravamento da obesidade e de suas comorbidades associadas. A adoção de estratégias preventivas e educativas no âmbito familiar pode ser determinante para reverter esse cenário”.
Por falar em produtos ultraprocessados, um estudo recente do professor Licio Velloso, da Unicamp, mostrou que o consumo destes é um dos principais fatores que contribuem para a obesidade na América Latina. “O problema, portanto, torna-se uma questão social e econômica, exigindo uma abordagem multifacetada para seu enfrentamento. São necessárias estratégias abrangentes que incluam políticas públicas de saúde, educação nutricional, programas de atividade física e ações para reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, visando uma intervenção eficaz tanto na prevenção quanto no tratamento da obesidade infantil”, diz José Israel.
O especialista enfatiza que o tratamento da obesidade infantil deve ser iniciado precocemente, com intervenções focadas em reeducação alimentar e na promoção de atividades físicas regulares, visando a prevenção de complicações futuras e a melhora da qualidade de vida da criança. “A prevenção e o tratamento da obesidade infantil demandam um esforço conjunto de pais, profissionais de saúde e sociedade. Promover um ambiente que estimule escolhas alimentares saudáveis e a adoção de hábitos de vida ativos é crucial para assegurar um futuro mais saudável para as crianças, que representam a próxima geração”.