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Genética ajuda a prever risco de obesidade ainda na infância, aponta estudo internacional

Ferramenta baseada em escores genéticos pode permitir intervenções precoces e personalizadas para prevenir a doença ao longo da vida

A obesidade é considerada um dos maiores desafios de saúde pública do século XXI. Projeções indicam que, até 2035, mais da metade da população mundial poderá ser afetada. Em meio a esse cenário, um estudo internacional publicado na revista Nature Medicine apresenta um avanço promissor: a criação de escores de risco genético capazes de prever, desde os primeiros anos de vida, a probabilidade de desenvolvimento da obesidade.

Baseado em dados genéticos de mais de cinco milhões de pessoas, o escore — também chamado de score poligênico — consegue estimar o futuro Índice de Massa Corporal (IMC), especialmente em indivíduos com ancestralidade europeia. A proposta apoia-se em evidências de longa data sobre o papel da genética no ganho de peso, embora até então fosse difícil identificar os genes envolvidos, devido à complexidade do quadro.

“Esse tipo de ferramenta representa um avanço revolucionário no campo da medicina preventiva, ao possibilitar intervenções precoces e personalizadas com base no risco genético individual”, explica o médico nutrólogo e intensivista Dr. José Israel Sanchez Robles. “Ao identificar, ainda na infância, indivíduos com maior predisposição à obesidade, torna-se possível elaborar estratégias personalizadas de prevenção, com o objetivo de impedir que a doença se manifeste ao longo da vida.”

O estudo também mostra que crianças com escores elevados tendem a apresentar ganho de peso acelerado já a partir dos 2,5 anos. Mesmo após tratamentos com dieta e exercícios, elas são mais propensas a recuperar o peso perdido, o que destaca a importância de abordagens de longo prazo.

“O que mais chama a atenção é a elevada capacidade preditiva desses escores quando aplicados precocemente — mesmo antes de qualquer alteração significativa no índice de massa corporal (IMC). Nessa abordagem, a genética atua como uma verdadeira lupa sobre o futuro metabólico do indivíduo, permitindo uma leitura antecipada dos riscos à saúde”, complementa Dr. José Israel.

Contudo, o modelo ainda apresenta limitações. A maioria dos dados utilizados é proveniente de populações europeias, o que pode reduzir sua eficácia em outros grupos étnicos. Mesmo entre os europeus, o escore explica cerca de 17,6% da variação do IMC.

“É fundamental compreender que a genética não determina, por si só, o destino de um indivíduo, mas sim indica uma predisposição. Fatores ambientais, hábitos alimentares e estilo de vida continuam a exercer influência decisiva na expressão dessas características genéticas”, pontua. “O risco genético não substitui as estratégias clássicas de prevenção, mas tem o potencial de torná-las significativamente mais eficazes quando integradas de forma adequada às práticas clínicas e aos programas de saúde pública.”

Dr. José Israel também reforça a necessidade de ampliar o acesso à medicina personalizada: “A medicina personalizada precisa ser também uma medicina equitativa. A tecnologia só faz sentido se puder beneficiar todas as populações, e não apenas uma parcela delas.”

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