“Canetas emagrecedoras” também restauram testosterona em homens obesos; entenda
Estudo revela que medicamentos antiobesidade como semaglutida e tirzepatida ajudam a normalizar os níveis hormonais em homens com sobrepeso ou diabetes
Medicamentos usados no tratamento da obesidade estão ganhando destaque por um efeito adicional relevante: ajudar a restaurar níveis normais de testosterona em homens com obesidade ou diabetes tipo 2. A descoberta veio com um novo estudo apresentado no ENDO 2025, o congresso anual da Endocrine Society, em São Francisco, e que revelou que drogas como semaglutida, dulaglutida e tirzepatida, das “canetas emagrecedoras” podem aumentar significativamente os níveis do hormônio sexual masculino, resultado que promete mudar a forma como médicos abordam queixas como fadiga, desânimo e baixa libido.
A pesquisa acompanhou 110 homens adultos em tratamento com esses fármacos ao longo de 18 meses. Os resultados foram expressivos: após uma perda média de 10% do peso corporal, a proporção de homens com níveis normais de testosterona saltou de 53% para 77%.
“Esse dado é relevante, pois evidencia que a reposição hormonal não é obrigatoriamente indicada em todos os casos de redução dos níveis de testosterona. Em muitas situações, ao abordar e tratar condições de base, como obesidade e resistência insulínica, é possível normalizar os níveis hormonais sem a necessidade de intervenção medicamentosa.”, afirma o médico nutrólogo e intensivista Dr. José Israel Sanchez Robles.
Segundo o especialista, o estudo evidencia que os benefícios da testosterona extrapolam a esfera da função sexual. O hormônio exerce influência direta sobre a massa e a força muscular, a distribuição do tecido adiposo, a saúde óssea e a eritropoese. Ademais, condições como excesso de peso e diabetes mellitus são sabidamente associadas à supressão dos níveis de testosterona, estabelecendo um ciclo vicioso de piora metabólica e comprometimento da qualidade de vida.
Ainda assim, especialistas alertam para o uso criterioso dos tratamentos. Questionários de triagem, como o ADAM, podem ajudar a levantar suspeitas, mas não substituem avaliação clínica detalhada e exames laboratoriais, que apresentam variações de referência entre laboratórios. “”Os sintomas associados à síndrome da deficiência de testosterona são bastante inespecíficos. Condições como má qualidade do sono, estresse crônico ou distúrbios endócrinos, a exemplo do hipotireoidismo, podem apresentar manifestações clínicas semelhantes, dificultando o diagnóstico diferencial.”, reforça Dr. José Israel.
Ele também chama atenção para a automedicação e o excesso de prescrição. Dados mostram que as prescrições de testosterona triplicaram nos últimos anos, muitas vezes sem exames confirmatórios. “Essa abordagem é potencialmente prejudicial, pois pode mascarar etiologias subjacentes reais e expor o paciente a riscos desnecessários decorrentes de intervenções inadequadas.”, adverte o médico.
Por outro lado, o estudo reforça que a abordagem integrada — unindo perda de peso, controle do diabetes e mudanças no estilo de vida — pode beneficiar não só a saúde metabólica, mas também a reprodutiva. “Essas evidências reforçam a importância de uma abordagem clínica mais individualizada, que vá além dos parâmetros laboratoriais isolados e considere o paciente em sua totalidade.”, conclui Dr. José Israel.