Saúde

Ozempic e Wegovy podem causar problemas de visão? Médico explica

Um estudo publicado recentemente na JAMA Ophthalmology, uma das revistas médicas mais relevantes da área da oftalmologia, apontou para uma possível ligação entre a semaglutida, o ingrediente ativo dos medicamentos Ozempic e Wegovy, e a neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NAION), uma condição ocular que pode resultar em cegueira. Quem explica mais sobre a descoberta, conduzida pela equipe de neuro-oftalmologia de Harvard, é o médico intensivista e nutrólogo que atua em Goiânia, José Israel Sanchez Robles.

 

De acordo com o especialista, a pesquisa levanta preocupações sobre os riscos associados ao uso do Ozempic e Wegovy, amplamente prescritos para o controle do diabetes tipo 2 e a perda de peso. “Embora o estudo não prove uma relação de causalidade direta, ele identifica uma associação potencial entre o tratamento com semaglutida e o desenvolvimento de NAION. Esta condição ocorre quando o fluxo sanguíneo para o nervo óptico é bloqueado, resultando em perda súbita e indolor da visão em um olho”, explica. 

 

Ainda de acordo com José Israel, os pesquisadores enfatizam a necessidade de estudos adicionais para esclarecer se a semaglutida realmente causa NAION. “Desde sua aprovação pela FDA em 2017, a semaglutida tem sido amplamente estudada em diversos ensaios clínicos. Até agora, este é o primeiro estudo a sugerir uma ligação com a NAION. O estudo analisou pacientes com excesso de peso, obesidade ou diabetes tipo 2, condições que já são fatores de risco para NAION, juntamente com outras condições como doenças cardíacas, hipertensão e apneia do sono”, pontua.

 

Ainda de acordo com o estudo, os pacientes foram atendidos em um único hospital oftalmológico que trata a maioria dos casos de NAION, o que pode limitar a generalização dos resultados. Um estudo de vigilância pós-comercialização poderia fornecer mais dados sobre a segurança e eficácia da semaglutida após sua liberação no mercado.

 

O médico intensivista também reforçou, porém, que a Academia Americana de Oftalmologia e a Sociedade Norte-Americana de Neuro-Oftalmologia não recomendaram que os pacientes interrompam o uso da semaglutida com base neste estudo. “No entanto, os cientistas disseram que pacientes que tiverem perda súbita de visão devem interromper o uso do medicamento e procurar atendimento médico imediato”, alertou.

Os sintomas de NAION incluem visão embaçada, distorção de cores, perda de visão periférica, uma mancha escura ou cinza na visão, perda de contraste e sensibilidade à luz. A condição geralmente ocorre sem aviso prévio e pode variar de leve a grave, afetando a qualidade de vida dos pacientes.

“Vale lembrar que a semaglutida já é associada a outras alterações temporárias na visão, como visão turva e piora da retinopatia diabética, que geralmente desaparecem após alguns meses. A mudança nos níveis de açúcar no sangue pode afetar a forma da lente ocular, resultando em visão turva. É possível que mudanças rápidas nos níveis de glicose e pressão arterial, induzidas pela semaglutida, possam contribuir para o desenvolvimento de NAION, mas essa hipótese requer mais investigação”, explicou José Israel.

O médico reforça, ainda, que embora o estudo sugira uma possível ligação entre a semaglutida e a NAION, não há evidências conclusivas de que o medicamento cause esta condição ocular. Pacientes em tratamento com semaglutida devem continuar seguindo as orientações médicas e ficar atentos aos sintomas de NAION. “Novas pesquisas serão essenciais para determinar a verdadeira relação entre a semaglutida e os riscos oculares, garantindo a segurança dos pacientes que dependem deste medicamento para o controle de suas condições de saúde”, concluiu.

 

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