Especialista explica por que mulheres brasileiras sofrem mais com ondas de calor graves na menopausa
Uma pesquisa que avaliou dados de 12.268 mulheres com idades entre 40 e 65 anos no Brasil, Canadá, México, Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia, mostrou que as brasileiras sofrem mais com ondas de calor moderadas ou graves na menopausa. No estudo, os pesquisadores administraram um questionário online com perguntas específicas sobre qualidade de vida durante a menopausa, produtividade no trabalho, comprometimento das atividades e avaliação de possíveis distúrbios do sono.
Além disso, as participantes também forneceram informações sobre as atitudes adotadas em relação aos sintomas e os tratamentos disponíveis. Com isso, o artigo que foi publicado na revista Menopause, periódico da Sociedade Americana de Menopausa, mostrou que a prevalência dos sintomas moderados ou graves foi significativamente maior entre as brasileiras (36,2%) em comparação com as mulheres nórdicas (11,6%).
Ou seja, um terço das mulheres no Brasil sofrem, ou sofrerão com as ondas de calor na menopausa. Quem explica melhor a pesquisa é o médico intensivista e especialista em nutrologia, Dr José Israel Sanchez Robles. Ele afirmou que essa condição nas mulheres, também chamada de fogachos, prejudicou o desempenho no trabalho em até 30% dos casos, sendo que a maior gravidade dos sintomas foi observada em relação ao sono.
“Com a chegada da menopausa, uma das queixas mais comuns entre as mulheres são as ondas de calor, sintomas vasomotores que provocam desconforto significativo. Pesquisas indicam que cerca de 90% das mulheres experimentam esses sintomas, sendo que, conforme apontado em estudos recentes, a maioria as vivencia de forma moderada a grave”, afirmou o médico.
José Israel pontua que tais ondas de calor durante a menopausa da mulher estão ligadas à diminuição do estrogênio, o principal hormônio feminino, com o passar dos anos, principalmente depois dos 40. “Geralmente, o fogacho se manifesta de forma abrupta, gerando uma onda de calor intensa na região do tórax e uma sensação de opressão, caracterizando um dos sintomas mais marcantes da menopausa”, completou.
Foi o que aconteceu com a designer Cristina Araújo, de 56 anos. Apesar de ter começado a sentir as ondas de calor há menos de um anos, aos 55, os sintomas vieram de uma forma que, segundo ela, a incomodaram muito no seu dia a dia. “No Brasil já vivemos calores intensos, e 2023 foi ainda mais quente, então somado a estes calores que comecei a sentir por conta da menopausa, senti certas dificuldades em fazer algumas atividades que, antes, eram feitas de forma mais tranquila”, contou, afirmando que procurou médicos para ajudarem nessa condição.
O relato apenas reforça o que orienta José Israel: que as mulheres procurem aconselhamento médico, pois a pesquisa relatada no início do texto também mostrou que 56,9% não estavam em tratamento contra os sintomas vasomotores para combater as ondas de calor.
Além disso, ainda como citou Cristina e reafirma o médico, o fato de se morar em um país tropical como o Brasil faz com que as mulheres sofram, sim, ainda mais por causa da influência do clima. “As ondas de calor, sintoma comum na menopausa, ocorrem devido à redução da ação do estrogênio no hipotálamo, que contém uma área responsável pela regulação da temperatura corporal, atuando como um termostato. Com a diminuição dos níveis de estrogênio, o centro termorregulador do corpo é ativado por variações de temperatura mínimas, tentando perder calor de forma excessiva. Isso resulta em um ‘termostato desregulado’, desencadeando as ondas de calor”, explicou José Israel.
Isso, somado ao fato de que o Brasil tem enfrentado ondas de calor com altas temperaturas, e que devem durar até, pelo menos, março, faz com que as mulheres com mais de 40 anos possam sofrer ainda mais.
Sobre o tratamento, o especialista diz que o padrão é a terapia de reposição hormonal (reposição de estrogênio), que é segura e recomendada porque costuma trazer bastante alívio para os sintomas vasomotores. Há opções de uso em forma de gel, em adesivos e via oral. “Um desafio no tratamento das ondas de calor na menopausa é que a terapia de reposição hormonal não é uma opção viável para todas as mulheres. Especificamente, aquelas que tiveram câncer de mama enfrentam contra indicações significativas. Portanto, é essencial uma avaliação médica cuidadosa para analisar os riscos e determinar o tratamento mais adequado para cada caso”, disse José Israel.
Assim, há também tratamentos farmacológicos alternativos, como o uso de antidepressivos em doses mais baixas que podem aliviar um pouco as ondas de calor, mas eles nem sempre resolvem. Além disso, terapias comportamentais, como ioga, acupuntura e exercícios físicos também podem ser uma opção, indica o médico, reforçando sempre a necessidade de acompanhamento profissional.