Artigo

Toco os extremos, os excessos, entro na rudeza e na sublimidade das realidades

Escrito por: Pedro Scalon Netto – cantor e compositor goiano

Agora nos vamos crescer, eles decidiram, na verdade eu decidi. Não adianta ir contra a corrente, quebrar a cara, agora vamos fazer tudo igual. Vamos abandonar os velhos sonhos e gerar novos sonhos. Sonhos agora de desejo em pulso, de instante, de fala. Tentaremos. Sem disfarces para a realidade. Já provamos todos os pecados, já deslizamos nos umbrais dos desafios, vamos aquietar juntos nossos espíritos, eu determino. Vamos nos amar pela vida.

Era o desperdício. Era a solidão não solitária a acontecer sem platéia, sem aplauso, sem aproveitamento. A vida sentida enfim. Como testemunhar o alvorecer numa praia deserta e gritar, rir estrondosamente e ouvir o mesmo riso num eco.

Mas quem determinou que a vida sentida fosse declarada explanada? Quem determinou que a vida vivida fosse acintosamente exibida? Quem se atreveria esbarrar na sabedoria? Quem se aventuraria a abrir a caixa de Pandora? A quem iluminaria a sua lagrima reluzente? A quem incomodaria o seu deslumbramento?

E por não ter para quem transbordar, para quem despejar a minha vida vivida, determino camuflar. A esconder meus desejos, meus delírios, meu êxtase. Auto determino calar nesse mesmo êxtase. Como se só a mim mesmo pertencesse o segredo da vida e sobre mim mesmo coubesse o designo da morte. Pois tudo acompanha a natureza. Começo e fim. O meu espelho, afinal devemos sempre gostar de espelhos. A degeneração testemunhada dia a dia. A clareza dos fatos arrebatando minhas tentativas de alcançar o sentido das coisas. Os sonhos arquivados num lado só de sonhos. Suposto utópico lado. Coisas deixadas conformadamente para serem um dia analisadas, se estivesse tempo. Sonhos que se modificavam, moldando-se a realidade.

“Na aparente desordem do movimento dos corpos, extasiado contemplando o absoluto da coisas, da noite, dia e sonhos. E nesse absoluto imutável, onde meu corpo se move em constante noite, a desordem não e senão a simetria perfeita para o milagre que surge, assim no êxtase.”

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