Sobre eucaliptos e sujeitos
Vivemos em sociedade e temos a necessidade de pertencer a um grupo. Nosso primeiro grupo é a família, pois mesmo sendo filhos biológicos, precisamos ser adotados por um adulto que se responsabilizará pelo nosso cuidado e sobrevivência, bem como pelo laço afetivo tão necessário à vida humana. O interessante é entender que, para pertencermos a esse grupo tão essencial, nos adaptamos e nos podamos, pois queremos ser iguais.
Como diz Rubem Alves em seu belo texto Sobre jequitibás e eucaliptos, o ser humano produz florestas de eucaliptos “todos enfileirados, em permanente posição de sentido, preparados para o corte. E para o lucro”… Quanto mais parecidas e uniformes as árvores são, mais rentável é a floresta.
Só que a verdadeira floresta é aquela composta de muitas árvores, todas únicas, não havendo nenhuma igual à outra. Cada uma com seu tamanho, sua sombra, sua copa, flores e frutos, ou seja, sua singularidade.
É comum, na adolescência, começarmos a questionar a cultura e o modo de plantio da nossa família, pois não queremos ser eucaliptos, queremos ser sujeitos. O curioso é que, muitas vezes, mesmo quando nos tornamos adultos e desenvolvemos nosso potencial, sendo capazes de cuidar da nossa própria sobrevivência, continuamos a buscar esse pertencimento. Só que os grupos, então, já são mais numerosos!
Há o grupo do trabalho, o dos amigos, o do lazer, o dos estudos, o dos ideais de vida e por aí vai. Como pertencer a tantos grupos? Como transitar por eles sem se perder de si mesmo?
Aí entra em cena o respeito por ser quem se é. Somos únicos, com nossos gostos e preferências individuais. Sustentar essa singularidade muitas vezes nos destaca, nos separa do grupo de origem ou dos demais grupos aos quais fomos nos ligando ao longo da vida. E como é difícil suportar esse processo de pertencer despertencendo… Quando não nos encaixamos mais no grupo original, a família (pelo menos integralmente) vamos desenvolvendo outras necessidades de pertencimento.
Tão simples, tão óbvio, mas tão desafiador.
Desenvolver nossa singularidade requer coragem, assumindo escolhas e nos arriscando a sermos excluídos dos grupos, quaisquer que sejam eles. Mas há também o risco de ser confirmado! Quantas vezes a simples ousadia de dizer o que se pensa e expressar como se é inspira outras pessoas (do mesmo grupo ou não).
Assim, o sucesso que destaca e exclui a pessoa do grupo em um primeiro momento, pode se transformar depois, caso ela tenha aprendido a perseverar, sustentar e suportar o sentimento de exclusão, a agregar outras pessoas pela inspiração de ter arriscado. Um processo que requer tempo, paciência e tolerância a frustrações.
A escolha de ser sujeito ou eucalipto depende de você desenvolver a capacidade de sustentar aquilo que inventa para sua vida!