Pesquisadores constroem “computador biológico” com neurônios humanos; entenda
Tecnologia foi criada por startup australiana e promete revolucionar ainda mais o campo da inteligência artificial
Prometendo continuar revolucionando o campo da inteligência artificial, a Cortical Labs, uma startup australiana, lançou um computador biológico que utiliza neurônios humanos cultivados a partir de células-tronco. Chamado de CL1, a tecnologia é uma forma diferente dos modelos convencionais de IA, como o ChatGPT ou Deepseek, que dependem de algoritmos e hardware de silício. Quem explica é o médico intensivista e nutrólogo Dr José Israel Sanchez Robles.
“O CL1 utiliza a plasticidade sináptica e a eficiência energética dos neurônios biológicos para otimizar o processamento de informações. O sistema incorpora centenas de milhares de neurônios cultivados sobre um substrato de silício, onde são submetidos a estímulos elétricos específicos, permitindo a adaptação e o aprendizado de determinadas tarefas por meio de padrões de atividade neural”, explicou o especialista.
Ainda de acordo com o médico, o mecanismo de aprendizado por reforço é a chave do processo: “Quando os neurônios apresentam respostas corretas, são reforçados por meio da exposição a padrões de dados estruturados, promovendo a consolidação de circuitos neurais específicos. Em contrapartida, quando ocorrem respostas incorretas, são submetidas a estímulos elétricos aleatórios, induzindo a reorganização das conexões sinápticas para otimização do desempenho. Essa abordagem, inspirada em princípios do aprendizado de máquina, possibilita o desenvolvimento de padrões comportamentais baseados em reforço, análogos aos processos de aprendizagem observados em sistemas biológicos, como humanos e outros animais”, pontua.
De acordo com o Dr. Brett Kagan, cientista-chefe da Cortical Labs, os neurônios biológicos apresentam vantagens significativas em relação aos sistemas de IA tradicionais. Enquanto modelos como o ChatGPT demandam quantidades massivas de energia e grandes volumes de dados para treinamento, os neurônios do CL1 operam com apenas alguns watts e são capazes de aprender rapidamente a partir de poucas interações. “A eficiência energética e a capacidade de aprendizado rápido são propriedades inerentes aos sistemas biológicos, resultantes da dinâmica sináptica e da plasticidade neural. Essas características oferecem novas perspectivas para o desenvolvimento de arquiteturas computacionais mais adaptativas e energeticamente eficientes, ampliando o potencial da bioeletrônica e da computação neuromórfica”, explica Kagan.
A tecnologia desenvolvida pela Cortical Labs tem potencial para aplicações em diversas áreas, incluindo a modelagem de doenças e testes de medicamentos. “Ao replicar processos biológicos complexos, o CL1 oferece uma plataforma inovadora para a investigação de condições neurológicas, possibilitando uma compreensão mais aprofundada dos mecanismos subjacentes a essas patologias e a avaliação de abordagens terapêuticas com maior precisão e eficiência. A empresa responsável pelo desenvolvimento do CL1 pretende disponibilizá-lo comercialmente como um ‘computador biológico’, permitindo que instituições de pesquisa e organizações explorem seu potencial em diversas áreas, desde a neurociência até a bioinformática e a inteligência artificial”, completa o Dr José Israel.
Vale reforçar, porém, que apesar do entusiasmo, especialistas destacam que a tecnologia ainda está em estágio inicial e enfrenta desafios, como a manutenção das células vivas e a integração com sistemas tradicionais. “O CL1 representa um avanço significativo na convergência entre biologia e tecnologia, inaugurando uma nova era da computação baseada em sistemas híbridos bioeletrônicos. Essa abordagem não apenas possibilita o desenvolvimento de arquiteturas computacionais mais eficientes e adaptáveis, mas também abre perspectivas para que os princípios da biologia humana orientem a próxima geração de inovações tecnológicas, ampliando as fronteiras da neurociência, da inteligência artificial e da bioengenharia”, conclui o médico.